“Bem vinda, oh vida! Eu vou encontrar pela milionésima vez a realidade da experiência e forjar na forja da minha alma a consciência incriada da minha raça. Velho pai, velho artífice. Valha-me agora é sempre”.
James Joyce – final de Um retrato do artista quando jovem
Hoje é o dia de nascimento de James Joyce, o escritor irlandês que revolucionou a literatura no início do século passado. Faz 135 anos. Joyce morreu jovem, tinha 59 anos, mas teve uma vida agitada, pelo menos para o mal. Era reclamão, metido, antipático, egocêntrico, frustrado, traumatizado e absolutamente genial.
Foi Joyce que trouxe à superfície da trama literária a banalidade da vida, com personagens chifrudos, solitários, que comiam e defecavam; gente comum, que nada faz a não ser compor a massa amorfa da sociedade capitalista. Inclusive “Homem Comum Enfim” virou o título traduzido de um livro de Antony Burgess (o título original é Here comes everybody) sobre Joyce. Segundo o autor de Laranja Mecânica, “uma introdução a Joyce para o leitor comum”.
Foi Joyce que trouxe à superfície da trama literária a banalidade da vida, com personagens chifrudos, solitários, que comiam e defecavam; gente comum, que nada faz a não ser compor a massa amorfa da sociedade capitalista. Inclusive “Homem Comum Enfim” virou o título traduzido de um livro de Antony Burgess (o título original é Here comes everybody) sobre Joyce. Segundo o autor de Laranja Mecânica, “uma introdução a Joyce para o leitor comum”.
Não sei o que é um leitor comum para Burgess. Quem resolve encarar Joyce (e não para) já não é tão comum assim. Fora isso, as iniciais do título (HCE) são uma alusão ao personagem do romance Finnegans Wake, Humphey Chimpden Earwicker. Mas esta obra é pau de dar em doido, tanto que é objeto de uma pós-graduação da Universidade Federal do Paraná, dada pelo professor Caetano Galindo, que assina uma das últimas traduções de Ulisses, outro romance de Joyce.
Mas por que um irlandês nascido no final do século XIX, pobre de marré marré marré, tem que ser lembrado no Maranhão do século XXI? Eu arriscaria dizer que é por que ele não foi lembrado, lido e estudado o suficiente, desde que, em meados do século XX, apareceu a primeira tradução feita pelo Antônio Houaiss. Hoje temos várias traduções, diversos estudos, muitas biografias e artigos sobre este escritor que virou pelo avesso a literatura, aliás foi a última, e, dizem alguns, uma espécie de atestado de óbito dela.
O Maranhão não é o berço de poetas, de prosadores, de intelectuais, da melhor língua? Então é o lugar de James Joyce, por que também é um lugar de pobres e miseráveis. Feliz do Maranhão se ele tivesse vindo pra cá, ao invés de ir pra Pola ou Trieste.
Mas se fosse hoje, um sem-teto, magro-velho e rabugento não teria chances na América. Nestes tempos de xenofobia exasperada, ser um desterrado, um banido ou um cidadão do mundo pode ser um tipo de condenação à morte perante topetudos, mordomos do inferno ou apagadores de arte. Então, queridos Crioulos de todos os cantos, se não “existe amor em SP”, que “é como o mundo todo”, não houve, nem nunca haverá lugar para iconoclastas como Joyce em nenhum lugar do mundo, por que, como muito bem disse o poeta Fernando Abreu “Índio e poeta só presta morto”.
TV GUARA.
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