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terça-feira, 11 de abril de 2017

‘Macaco da selfie’ pode desaparecer na Indonésia por causa de sua carne


Espécie macaca nigra vive na ilha de Celebes e é caçada pelos ‘minahasan’, um povo original da região.

Foto: Reprodução
Uma espécie de macaco negro de olhos de cor âmbar, famosa desde que um deles fez uma ‘selfie’ com uma câmera fotográfica, poderá desaparecer na Indonésia, onde este primata é vítima da caça para alimentação e do desmatamento.
“Seu hábitat está diminuindo, e as pessoas comem macacos”, lamenta Yunita Siwi, da ONG Selamatkan Yaki, que faz campanha pela proteção deste macaco cristado e com pelo negro, da espécie macaca nigra, protegida e em vias de extinção.
Estes macacos vivem na selva, na ilha de Celebes (centro), onde os minahasan, um povo autóctone, os caçam pela sua carne, que consideram saborosa.
Além disso, como seu hábitat natural está diminuindo, o animal se aventura cada vez mais nas zonas de cultivo, com o que corre o risco de morrer por disparos de camponeses furiosos.
Cerca de 2 mil exemplares de macaca nigra vivem em uma reserva de 8,7 mil hectares em Tangkoko, onde estão relativamente protegidos. São espécimes privilegiados, em comparação com os outros 3 mil das florestas da região.
Nesta reserva vive Maruto, o macaco que em 2011 pegou a câmera de David Slater, um fotógrafo britânico que fazia uma reportagem na selva.
Após colocar o tripé, Slater se ausentou por alguns minutos, e quando voltou encontrou ‘selfies’ tiradas pelo macaco com sua câmera.
As imagens deram a volta ao mundo e provocaram uma batalha judicial nos Estados Unidos, onde uma associação de defesa dos animais argumentou em um tribunal de San Francisco que o macaco deveria ser o proprietário dos direitos autorais. O processo acabou sendo indeferido.
“Não gosto de matar o macaco, mas uma vez cozido, eu gosto do sabor, com muitas especiarias. Parece com o do javali ou o do cachorro”, descreve Nita, uma mulher minahasan de 32 anos, etnia essencialmente cristã no país muçulmano mais populoso do mundo.
Os macacos são assados no fogo para chamuscar a pelagem, a fim de que a carne fique melhor conservada nesta região tropical.
Em um mercado da localidade de Tomohon, a carne destes primatas é apenas uma entre outras de animais exóticos cuja comercialização é proibida, como serpentes, ratos e morcegos.
Ao lado das barracas em que alguns jovens cortam carne, há cachorros vivos enjaulados que aguardam o mesmo destino.
As fiscalizações surpresa no local provocaram confusão, e as autoridades chegaram a considerar fechar o mercado, mas parecem ter mudado de opinião. Algumas agências de viagens inclusive o incluíram em seus percursos de “turismo extremo”.
A espécie se reproduz menos que antes: em 40 anos, a população de macaca nigra diminuiu mais de 80%, passando de 300 primatas por quilômetro quadrado em 1980 para 45 em 2011, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
“O último prego”
Os defensores da natureza e as autoridades se esforçam para convencer os locais das imediações da reserva natural de Tangkoko que suspendam a caça e o consumo do macaca nigra.
Nos mercados, funcionários explicam aos visitantes que se trata de una espécie protegida e que, se violarem as normas, podem ser condenados a até cinco anos de prisão.
As ONGs tentam, com a ajuda das autoridades locais, convencer os responsáveis pelos colégios que introduzam a proteção das espécies em estado selvagem em seus programas escolares.
“Os minahasan comem tudo que tenha patas ou asas. Para que a demanda acabe no longo prazo, devemos propor que se aborde o tema nos programas escolares”, explica à AFP Hendrieks Rundengan, membro da agência local para a proteção da vida silvestre.
Os defensores da natureza vão às igrejas para pedir aos padres que incutem nos fiéis a ideia de que os humanos são os guardiões da Terra e por isso devem proteger as espécies ameaçadas, como os macacos, afirma Siwi.
A caça, alerta Simon Purser, do centro de resgate da fauna Tasikoki, é “o último prego no caixão” para estes macacos.

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