No meio deste cenário nebuloso, algumas atividades esperadas para este ano estão sendo reavaliadas
21 de Abril de 2020
Vivemos um tempo de muitas incertezas. Não sabemos quando retomamos às atividades normais, tampouco como a o retorno vai ser. Sabemos da gravidade do vírus que instalou em meio ao mundo, mas não se sabe ainda como combatê-lo com segurança e eficácia para além das medidas protetivas.
No meio deste cenário nebuloso, algumas atividades esperadas para este ano estão sendo reavaliadas. Assim como o São João pode acontecer no final do ano, a tradicional Via Sacra do Anjo da Guarda já remarcada para setembro, campeonatos esportivos sendo adiados para o segundo semestre (a exemplo de Eliminatórias da Copa e competições nacionais), fica a expectativa do meio político quanto a realização das eleições deste ano.
O pleito é a nível municipal, elegendo prefeitos e vereadores. Até o momento, tudo está garantido, pois o principal elemento para a realização do certame eleitoral não sofreu nenhum ataque – por enquanto. As coisas só mudam se o dinheiro da justiça eleitoral for mexido.
O Imparcial conversou com o desembargador Cleones Carvalho Cunha, atual presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA). Entre outras questões relacionadas às eleições 2020, ele falou sobre o que está programado e o que pode acontecer em caso de eventualidades.
ENTREVISTA
O Imparcial – Presidente, já se pensou em mudar os planos em relação às eleições deste ano?
Cleones Cunha – É um ano complicado. Nós estamos dando continuidade aos nossos trabalhos, tanto no Tribunal Regional Eleitoral como Tribunal de Justiça. Graças a nova tecnologia, essa semana, no Tribunal Regional Eleitoral, realizamos sessões por videoconferência todas as tardes, inclusive com a participação dos advogados. No Tribunal de Justiça também fizemos sessões. Nós não estamos parados. Quanto às eleições, que é a grande interrogação do momento, eu espero que elas sejam realizadas por dois bons motivos. Primeiro, que as eleições são um processo democrático e que exige a participação de todos. E, se nós a realizarmos, como estamos nos preparando para realizar no primeiro domingo de outubro, é um bom sinal de que, a situação que nós estamos vivendo no momento no Brasil, melhorou bastante.
Eleição é uma festa da democracia, com a participação do povo. Nós não podemos realizar uma eleição, às vezes com filas enormes, tendo que nos preocupar com o distanciamento entre as pessoas, dando dois metros de distância entre elas, impedindo que conversem no meio da rua, que se confraternizem e, aqueles que ganharem, vibrem no final. É uma festa com a participação do povo.
Se, lamentavelmente, isso não acontecer, será por causa desse vírus que está aí. Mas, no Tribunal Regional Eleitoral, nós estamos tomando todas as providências para a realização das eleições (fazendo a verificação das urnas, expedindo as resoluções necessárias.
O Imparcial – E se as verbas do Fundo Partidário e da Justiça Eleitoral foram realocadas para o combate ao novo Coronavírus?
Cleones Cunha – Se retirar da campanha eleitoral para o combate ao Coronavírus, nós temos que pensar em adiar a eleição. Se tirar da Justiça Eleitoral, aí já é uma decisão em adiar. Sem o dinheiro necessário, não podemos realizar as eleições. Precisamos do dinheiro que está nos TREs e no TSE. Como faremos o transporte das urnas? Como garantir alimentação de mesários sem dinheiro? Não acredito que o orçamento dos TREs e TSE seja mexido.
Quanto ao Fundo Partidário, ele precisa ser avaliado pelos senadores e deputados, que é a quem cabe essa decisão. Como cidadão, eu acho que é dinheiro demais, não deveria ser esse tanto [são R$ 2 bilhões do fundo eleitoral mais R$ 1 bilhão do Fundo Partidário]. Mas a decisão compete ao Congresso Nacional.
O Imparcial – O novo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, deve defender o pleito neste ano?
Cleones Cunha – A nossa função nas mesas diretoras dos tribunais é temporária. Eu saio em maio da presidência do TRE e quem deve assumir é o atual vice-presidente, desembargador Tyrone Silva. NO TSE, o ministro Luís Roberto Barroso é o atual vice-presidente da ministra Rosa Weber, que preside aquela corte também até maio. De forma que esta função é transitória.
Não nos cabe decidir adiamento ou não do pleito. Isso é competência do Congresso Nacional, a quem cabe alterar. Data de eleição é fixada pela Constituição Federal, ano de eleição é fixado pela Constituição Federal. Só o Congresso pode promover mudanças na Constituição, logo na realização de um pleito.
É obvio que, se a situação se agravar, essa é conseqüência natural. Se a situação melhorar é possível que a eleição seja só adiada para dezembro e se realize a eleição neste ano
O Imparcial – Quanto a possibilidade de pré-candidatos tentarem tirar proveito do atual momento, a Justiça Eleitoral está atenta a isso?
Cleones Cunha – Claro que sim. É lamentável se algum pré-candidato quiser se aproveitar disso para tirar proveito em campanha eleitoral. É preciso que nós tomemos consciência de que essas pragas, as misérias que nós vivemos como essa, não devem ser aproveitadas por políticos inescrupulosos. E quem se aproveitar disso evidentemente não merece o voto do cidadão de bem. Alguém que se aproveita do momento de sofrimento da população, não merece ser votado por essa mesma população. E a Justiça Eleitoral e o Ministério Público estão atentos a esses fatos.
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