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sexta-feira, 20 de agosto de 2021

CONHEÇA! Direitos das mulheres: islã tem diferentes interpretações


A "sharia", isto é, lei islâmica, é entendida de maneira bastante diferente ao redor do mundo. É uma espécie de marco moral com base no Alcorão -o livro sagrado do islã- e nos ensinamentos do profeta Maomé.

Sexta-Feira, 20/08/2021, 06:01 - Atualizado em 20/08/2021, 09:01 -  Autor: DIOGO BERCITO/ FOLHAPRESS

   

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 | Reprodução

Há diversas maneiras de entender essas transformações. Um ponto básico é que o islã não é uma religião monolítica. Como o cristianismo e o judaísmo, aliás. A interpretação que um mesmo grupo faz do islã tampouco é estática. Mais uma vez, como no caso de grupos cristãos e judaicos.

O Talibã tem origem no movimento religioso chamado deobandi, surgido no século 19 em escolas religiosas na Índia. Vem daí o nome Talibã, que significa "estudantes". Outras facções radicais bastante conhecidas, como o Estado Islâmico e a Al Qaeda, têm outra genealogia: seguem o wahhabismo, surgido no século 18 no que é atualmente a Arábia Saudita. Em comum, têm uma visão tradicional, literal, fundamentalista do islã.

Depois de sua experiência governando o Afeganistão de 1996 a 2001, e depois também de duas décadas lutando contra as forças americanas, o Talibã sinaliza que pode ter revisto algumas de suas posições, como a da segregação extrema entre homens e mulheres. Ainda não está claro, por outro lado, se a facção mudou em algo a sua infame interpretação do apedrejamento de mulheres.

A lei islâmica prevê, em algumas vertentes, essa punição para casos de adultério. No passado, porém, autoridades religiosas puseram tantos entraves -por exemplo, a exigência da presença de quatro homens de moral impecável como testemunhas- que ela foi raramente usada. O Talibã dos anos 1990 facilitou esses apedrejamentos. Mas pode decidir, agora, dificultá-los.

Outro ponto importante é que nem mesmo os membros do grupo concordam sobre o que a sharia significa na prática. Há alas mais voltadas à ideologia, segundo Felbab-Brown, enquanto as mais pragmáticas insistem que o Talibã precisa mudar para poder se relacionar com a comunidade internacional.

Isso talvez explique a rapidez com que o porta-voz da organização radical foi a público declarar que respeitaria os direitos das mulheres -entre outras coisas, provavelmente como uma maneira de preservar o acesso a algum capital estrangeiro e canal diplomático.

Para determinar coisas como educação, participação política e vestimenta das mulheres, "os debates internos vão ser bastante intensos, desafiadores e problemáticos", diz a analista do Brookings.

Felbab-Brown narra uma história para ilustrar as divergências dentro da organização que volta a controlar o Afeganistão. Em 1996, quando o Talibã tomou Cabul, alguns membros mais radicais começaram a queimar aviões; seguiam a visão antimodernidade típica do movimento deobandi. Naquele momento, o mais pragmático mulá Mansur -que mais tarde liderou o Talibã, substituindo o mulá Omar- correu até o aeroporto para interrompê-los.

Deve haver, também, alguma variação entre como a sharia vai afetar as áreas urbanas e rurais e as distintas regiões do país.

É o que analistas têm notado, nos últimos anos, ao estudar as porções do país que já estavam sob o controle da facção radical. Em algumas delas, o Talibã proibiu as novelas. Em outras, não. A mesma coisa vale para a educação feminina: foi proibida em partes, permitida em outras ou censurada de maneiras distintas.

"Tudo vai depender de como cada comunidade local reagirá contra as regras que o Talibã impuser", afirma Felbab-Brown. E do quanto os habitantes de cada parte do país vão concordar ou não com a interpretação que o grupo faz da sharia. "O Talibã não é uma força invasora vinda de Marte. Eles vêm das comunidades locais, muitas das quais já praticam a sharia."


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