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terça-feira, 2 de junho de 2020

EFEITO PSICOLÓGICO Saiba como a quarentena pode mudar percepção da passagem do tempo


 terça-feira, 02/06/2020, 08:06 - Atualizado em 02/06/2020, 08:18 -  Autor: FOLHAPRESS

    

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Sem o deslocamento para o trabalho, o momento de buscar os filhos na escola ou expectativa de um evento no final de semana, os dias de quarentena são mais similares entre si do que o cotidiano antes da pandemia. Essa nova rotina repetitiva pode alterar a nossa percepção da passagem do tempo e fazer com que os dias pareçam cada vez mais longos.

“Quando não há eventos acontecendo, sua atenção vai para o passar do tempo e sua sensação dele vai se arrastando. Exemplos clássicos são fila de banco e salas de espera. São situações em que toda sua atenção está voltada para a passagem do tempo”, explica André Cravo, professor de neurociência da Universidade Federal do ABC e coordenador do Laboratório de Cognição e Percepção do Tempo.

Se, por um lado, os dias se alongam para algumas pessoas sem novidades importantes, a falta de eventos também é responsável por uma segunda mudança. Cravo explica que um dos fenômenos que interferem na nossa sensação da passagem do tempo são quantas ocasiões marcantes e diferentes entre si aconteceram em um determinado intervalo.

Os dias repetidos somados, portanto, podem parecer que passaram rapidamente quando olhados em retrospecto. A sensação que o período de isolamento pode causar é como se tivéssemos saltado do Carnaval direto para o segundo semestre de 2020

André é um dos pesquisadores do grupo de pesquisa da universidade que, junto com o Instituto do Cérebro do Albert Einstein, já reuniu mais de 4.000 relatos sobre a percepção da passagem do tempo durante a pandemia desde 6 de maio.

O projeto surgiu a partir de contato com depoimentos de pessoas afirmando que estavam sentindo o tempo de forma diferente no isolamento. Com uma base fixa de 700 pessoas que enviam relatos semanais, o grupo vai poder avaliar as flutuações de humor e de rotina e o impacto de ambos no tema de pesquisa.

Eles ainda não têm resultados, mas Cravo explica que já dá para identificar uma grande diferença em como as pessoas têm vivido a quarentena. “Temos visto relatos de quase tudo: semanas que passam voando, outras que se arrastam. Mas, de maneira anedótica, todo mundo concorda que o tempo está diferente”, diz.

EMOÇÕES

Raymundo Neto, doutor em medicina e assistente de pesquisa do Instituto do Cérebro do Einstein, conta que o grupo busca avaliar, a partir da rotina, como as emoções afetam o tempo.

“Nesta crise atual do coronavírus, o que venho observando e o que tenho ouvido de amigos e colegas é um aumento da amplitude das oscilações de humor, como alternâncias, às vezes bruscas, entre alegrias e tristezas, relato que leio como sinais de desajustes temporais em curso”, afirma Luiz Silveira Menna Barreto, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador de cronobiologia e ritmos biológicos. Sobre essa percepção do tempo, ele gosta de buscar apoio em uma citação bem-humorada de Albert Einstein: “Cinco minutos com seu bem-amado não são os mesmos cinco minutos na fila de um banco”, conta.

Mestre em psicologia experimental pela USP e professora da The School of Life, Desirée Cassado afirma que não conseguir diferenciar bem os dias e senti-los mais alongados pode gerar reações como tédio e falta de contração.

Com os rituais que marcavam as diferentes tarefas do dia, como arrumar a mesa do trabalho e entrar na academia, reduzidos ao mínimo, as pessoas perdem estímulos motivacionais, segundo a psicóloga. “Se você não tiver criatividade para inventar rituais de passagem do dia formal de trabalho para o final de semana, é capaz que você emende trabalho com final de semana e tudo vire uma coisa só. A gente não consegue mais dizer se esse é o momento de descansar, tudo fica muito misturado”, argumenta Cassado.

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